Invisíveis
Palco urbano
veia aberta que salta, ressalta em nossa cegueira
cegueira de alma, não de vista, à vista de todos.
Visão conturbada, deteriorada, urdida em tecido vacilante, lasso ...
no escaldante betume resinoso, negrume amolecido
onde tudo acontece, se passa, se perde
qual resíduo de descarte, ganga sem proveito
ali se dão as relações ... não se dão
se desviam, atravessam, desafinam
faz de conta, que conta, passa reto, passa a régua
tempo sem unidade, em plena urbani cidade
falas sem ecos, ruídos no silêncio, leite que talha
que habita sua alma, enchafurda suas entranhas
vida embrulhada em mortalha
qual limalha de ferro, repelente ao magneto
deserto lugar, onde tudo começa, termina
de piche, de gente
visão periférica, cegueira arredia e noite
nó na garganta, na gravata, desvão e desvario
qual lixos de asfalto
reativos, corrosivos, tóxicos, patogênicos
aos corpos que limpam, invisíveis, inviáveis ...
sem almas, ... só almas
no chão esgotado, coagulado de-tritos, de-composição
da matéria humana, metabólica, metafísica, metastática
artérias invadidas, fermentadas
do coalho do luxo
no limbo do lixo ...
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As imagens da série foram concebidas pela junção de fotografias realizadas com os garis nas ruas da cidade, fotografias de paredes grafitadas e fotografias dos lixos acumulados nas ruas. As imagens foram, primeiramente, impressas em papel 100% algodão, onde sofreram interferências diretas de lápis pastel seco e carvão. Após as interferências à mão com lápis pastel e carvão as imagens foram fotografadas e levadas ao computador para serem sobrepostas umas sobre as outras no mesmo espaço de representação. Em seguida, após longos processos de interposição das imagens, as mesmas foram impressas alumínio, acrílico e tecido de cetim.